Comentários sobre o texto "A flauta doce no ensino de música nas
escolas: análise e reflexões sobre uma experiência em construção", de
Jusamara Souza, Liane Hentschke e Viviane Beineke, publicado na revista
Em Pauta
Achei muito interessante a iniciativa das pesquisadoras em sanar uma deficiência que existe na literatura de flauta doce: um método que compreenda turmas maiores dos cursos de 1º e 2º graus. Com a inclusão do ensino de música no curriculo de artes, e com o aumento do número de escolas que desenvolvem projetos específicos para a área da música, tais métodos seriam muito bem vindos.
Ensino instrumentos de sopros da família dos metais para grandes grupos há alguns anos. Já utilizo algumas experiências que foram relatadas no texto, como dividir a turma em pequenos grupos para melhor aproveitamento e percepção da sonoridade individual. Entretanto, como o objetivo do meu trabalho é a formação dos alunos para a participação num grupo artístico, e tendo em vista a complexidade de se produzir as notas num instrumento de bocal, acredito que fico demasiado tempo praticando as técnicas e procurando fazer com que os alunos alcancem as diversas notas da escala do instrumento, para depois começarmos a prática de repertório.
Através dessa leitura, conectando com demais assuntos discutidos durante o curso, consegui vislumbrar possibilidades de se trabalhar o repertório mesmo com alunos muito iniciantes. Principalmente no que tange aos arranjos a duas vozes.
Também pude perceber que estou no caminho certo quanto a minha posição de professora, sempre questionando meus próprios métodos e procurando aperfeiçoar cada vez mais minhas técnicas e didática.
RESUMO DO TEXTO
- A
maioria dos métodos de flaut doce propõe uma coletânea de repertório
organizada progressivamente em relação à dificuldade técnica.
- A
obra de Akoschky e Videla diferencia-se das demais por vincular o ensino
instrumental com conhecimentos e experiências musicais mais amplas.
- São raras as propostas de ensino de flauta doce direcionada a aulas de música em escolas de 1º e 2º graus, com turmas formadas por mais de 20 alunos que não optaram em aprender a tocar esse instrumento.
- O texto oferece a aplicação de uma proposta de ensino coletivo do instrumento.
- A metodologia selecionada foi a pesquisa-ação, a qual envolve sempre um plano de ação baseado em objetivos, processo de acompanhamento e controle da ação planejada e no relato desse processo, sendo centrado da figura do professor/pesquisador.
- O projeto foi desenvolvido com uma turma de 22 alunos da 3ª série do 1º grau, na faixa de 8 a 9 anos de idade, durante o ano letivo de 1996.
- Na execução do repertório, os alunos foram incentivados a explorar diversas formas de interpretação, através da utilização de articulações, andamentos e dinâmicas variadas.
- A introdução de uma peça nova foi trabalhada tanto por imitação como a partir da leitura de partitura.
- Em alguns casos, o ritmo e a melodia foram solfejados separadamente.
- No início da aula, solicitava-se que os alunos colocassem as suas idéias sobre os temas tratados, o que possibilitou que se partisse do conhecimento prévio dos alunos.
- Preocupação com a integração entre as atividades de composição, execução e apreciação musical.
- Quanto à digitação das notas na flauta, foram introduzidas simultaneamente as notas dó4 e lá3, conforme sugere Frank (1980). Entretanto, verificou-se que a sonoridade poderia ter sido melhor resolvida com a introdução de apenas uma nota de cada vez, como sugere Videla e Akoschky (1967), Rocha (1986) e Tirler (1976), por conta do grupo numeroso.
- A quantidade de alunos na turma dificulta o controle da sonoridade produzida individualmente. Esse problema foi diminuido nos trabalhos em pequenos grupos.
- Em relação à escrita musical, percebeu-se uma certa resistência dos alunos em utilizá-la. Do ponto de vista dos alunos, a atividade de tocar parece ser mais significativa e prazeirosa do que a de escrever.
- Diversidade de interesses dos alunos em relação ao estudo de flauta. As diferenças entre os alunos, em relação ao dompinio instrumental, aumentaram significativamente a sua autocrítica. Percebe-se a idéia de que a escola "não é lugar para se errar".
- Quatro categorias de repertório foram utilizadas: peças para execução instrumental e/ou vocal; canções folclóricas para serem arranjadas pelos alunos, as suas próprias composições e gravações para atividades de apreciação musical.
- Melodias trabalhadas em partes / vozes, construídas paenas com uma ou duas notas, facilitando o controle da sonoridade e da emissão, sem prejudicar o resultado musical.
- Também trabalhou com ostinatos tocados pelos alunos com melodias mais complexas executadas pela professora.
- Enfase no ensino de música, ao invés do foco no ensino do instrumento.
- Importância da figura do professor/pesquisador. "A prática cotidiana do professor é um desafio permanente que resiste a fórmulas, modelos, soluções externas, e um convite para um ensino criativo, experimental e para uma pesquisa na ação".