Tanto o comprometimento político-social quanto as relações de poder presentes numa estrutura hierárquica entram na sala de aula através da relação aluno/professor.
A princípio, podemos ilustrar dois cenários de possibilidades dessa relação.
Cenário 1:
- caracterizada pelo autoritarismo, onde o silêncio é imposto pelo grito;
- o silêncio que não significa concentração, mas uma conformidade velada ou uma viagem para fora da sala de aula;
- as potencialidades e vivências dos alunos são ignoradas: eles não sabem nada, pois quem detêm o conhecimento é apenas o professor.
Cenário 2:
- caracterizada pela autoridade do professor como condutor de um processo de aprendizado democrático;
- silêncio motivado pela participação e interesse na aula;
- as potencializades e vivências dos alunos são levadas em conta e estimuladas, fazendo-os protagonistas do processo: eles sabem fazer.
Podemos identificar que o Cenário 1, infelizmente, o mais comum em nossas salas de aula, é bem semelhante à relação existente entre o povo e o Estado, no Brasil e em vários outros países. Como disse o historiador Célio Turino, ex-secretário da Secretaria da Cidadania Cultural do MinC, e criador do Programa Pontos de Cultura durante a gestão Gilberto Gil, na abertura da 1ª Teia Regional dos Pontos de Cultura da Macro-Oeste de SP, "o Estado não foi organizado para se relacionar com a sociedade. Quando isso acontece, é normalmente através do assistencialismo e não da autonomia", como se a todo momento nos dissessem: "vocês não sabem, vocês não têm competência". E o silêncio não significa que a situação da população está a contento, mas mostra sim a omissão, o medo de retaliação, o conformismo.
O Cenário 2 me traz à lembrança a participação do músico, compositor, mestre de capoeira, pesquisador de cultura popular e contador de causos Eufraudízio Modesto na Conferência Municipal de Cultura da Cidade de Caieiras em 2009. Na ocasião, o palestrante ressaltou a importância das conferências municipais, estaduais e nacionais como forma de participação da sociedade civíl na elaboração de políticas públicas* nos diversos setores: saúde, educação, cultura, segurança, assistência social, etc... Para ilustrar como deve ser essa relação entre Estado e sociedade civíl, Eufraudízio nos disse que "o povo deve ser o corpo e o Estado a roupa, cabendo a esta se adaptar ao corpo, e não o contrário".
Faço, então, essa analogia com a sala de aula: os alunos devem ser o corpo e o professor a roupa. Acredito que se adotarmos isso como prática, nossos alunos de tornarão cidadãos mais atuantes no futuro, conscientes tanto dos seus deveres como dos seus direitos.
* Políticas públicas: conjunto de ações desencadeadas pelo Estado, no caso brasileiro, nas escalas federal, estadual e municipal, com vistas ao bem coletivo. Elas podem ser desenvolvidas em parcerias com organizações não governamentais e, como se verifica mais recentemente, com a iniciativa privada.
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