terça-feira, 13 de setembro de 2011

O ESPÍRITO CRIADOR E O ENSINO PRÉ-FIGURATIVO

Caros, achei esse texto muito bacana no site da associação Através. Lá tem outros textos bem interessantes: http://www.atravez.org.br/educacao.htm

O ESPÍRITO CRIADOR E O ENSINO PRÉ-FIGURATIVO
H.J.Koellreutter
Três exemplares datilografados com alterações manuscritas do próprio autor (06p.).
[Apresentação em aulas inaugurais da Escola de Música da UFMG (BH)
e da Faculdade Santa Marcelina (SP) ano letivo de l984]


O alicerce do ensino artístico é o ambiente. Um ambiente que possa acender no aluno a chama da conquista de novos terrenos do saber e de novos valores da conduta humana. O princípio vital, a alma desse ambiente, é o espírito criador. O espírito que sempre se renova, que sempre rejuvenesce e nunca se detém. Pois, num mundo em que tudo flui, é o que não se renova um empecilho, um obstáculo.

Sem o espírito criador não há arte, não há educação. É esta uma verdade que os educadores tão facilmente esquecem.

Nem a escola,nem os professores jamais foram perfeitos. Sua eficiência reside na inquietação, que nasce da consciência de não poder satisfazer o ideal.

Numa escola moderna, numa época de profundas mudanças sócio-culturais como a nossa, o professor apresenta aos alunos sempre novos problemas; pois, as perguntas têm mais importância do que as respostas. Numa escola moderna, as soluções não são mecanicamente fornecidas ao aluno, mas sim resultam de um trabalho comum de todos, que dele participam. É que nesse ambiente desaparece o dualismo tradicional professor-aluno.

Já muitas vezes disse eu: em última análise não há maus alunos, e sim maus professores e escolas ruins.A estagnação do movimento, a rotina, a sistematização rígida dos princípios, a proclamação do valor absoluto são a morte da escola. O espírito criador que, sempre duvidando, procura, investiga e pesquisa, é a sua vida.

O objeto a ser estudado nesta Escola, é a arte.

Parece a muitos que, numa escola de arte, esta deva ser estudada e praticada exclusivamente de acordo com os princípios da tradição ou com as teorias formuladas em tratados e métodos.

É opinião geral que um programa de ensino bem organizado, baseado numa determinada ordem pré-estabelecida das disciplinas leva ao aluno a adquirir o que ele necessita para o exercício da profissão, por ele espontaneamente escolhida. E ninguém preocupa-se com o resto. A escola torna-se um agregado de cursos estanques, mais ou menos bem dados, onde o professor repete doutoral, e fastidiosamente, a lição já repetida nos anos anteriores, ou treina seus discípulos como se amestram animais de circo pela repetição indefinida do mesmo ato, discípulos ansiosos para aprender a técnica de um instrumento p.s., a fim de poderem transmitir uma mensagem artística.

Essa situação, apesar de ser uma realidade, essa concepção das coisas, apesar de ser muito difundida, extingue no aluno o que nele houver de criativo.

Realmente, é incontornável: só poderá seguir a carreira artística, quem se especializar; quem aprender algum artesanato até seu domínio incontestável. É por isso que devemos decidir -não imediatamente, mas o quanto antes- qual será o caminho a seguir e qual a disciplina a ser estudada a fundo.

Todos os esforços, no entanto, serão vãos, para a real compreensão das coisas da arte, tornando-se, na prática, mera rotina, quando não relacionarmos -tanto os alunos, quanto os professores- os nossos conhecimentos com o todo. Com o todo da arte, com o todo de nossa existência, com o todo do meio-ambiente e com o todo da sociedade em que atuamos. Pois, é esse todo que nos estimula, que como germe, vive em nós desde o princípio; o todo que é a vida espiritual, o espírito criador, propriamente dito.

O caminho é o ensino pré-figurativo segundo o fato de que a função primordial da educação já não pode adaptar o jovem a uma ordem existente, fazendo com que assimile os conhecimentos e o saber destinados a inseri-lo em tal ordem -como procederam as gerações anteriores-, mas, pelo contrário, pode ajudá-lo a viver num mundo que se transforma em ritmo, cada vez mais acelerado, tornando-o assim capaz de criar o futuro e de inventar possibilidades inéditas.

Entendo por ensino pré-figurativo um método de delinear antecipadamente o que, provavelmente, sucederá no futuro, ou seja, figurar imaginando. Entendo por ensino pré-figurativo um método de delinear aquilo que ainda não existe, masque há de existir, ou pode existir ou se receia que exista.

Este método de ensino, naturalmente, não rejeita os métodos tradicionais, mas sim, os complementa. O caminho é a ampliação, o alargamento do ensino tradicional pelo ensino pré-figurativo.

Por isso, alunos desta Escola, apelo a vocês: deixem-se levar pela consciência das relações entre as coisas -é que a ciência moderna comprovou que não há objetos ou fatos, mas sim, exclusivamente relações-, deixem-se levar pela consciência destas relações, pela verdade de que nenhuma atividade intelectual pode ser isolada. Deixem-se levar pelo verdadeiro interesse e não apenas pela simples curiosidade. Deixem-se levar pelos fundamentos essenciais dos nossos conhecimentos e pela força da problemática que nos envolve e que dá sentido à atuação do artista de nosso tempo.

Assim sentirão o pensamento humano em sua unidade, cuja conscientização é, tão importante na vida intelectual contemporânea.

O espírito criador não permite -hoje menos que nunca- que os vários ramos da educação artística sejam ensinados independentemente, uns dos outros, sem relações entre si.

É verdade que em cada ramo da educação artística necessita-se do homem que se especializa. Mas é indispensável, que não lhe faltem o conhecimento do todo e a compreensão das inter-relações existentes entre as coisas, entre os homens e suas atividades.

Esse todo, porém, do que eu falo, e cuja conscientização me parece tão importante, não existe pronto em nenhuma parte. Nem nas diversas áreas da atividade artística. Nem nos cursos da escola. Esse todo vive em toda parte através de tensões permanentes que sempre se renovam.

A mudança do conteúdo e dos programas de uma educação que tenda essencialmente ao questionamento crítico do sistema e à sua reprodução, que tenda ao despertar e ao desenvolvimento da criatividade e não à adaptação e à assimilação, exige:

1. que as culturas não-ocidentais tanto quanto as originárias, aborígenes ainda existentes neste planeta e, naturalmente, também no Brasil, sejam levadas em conta tanto quanto a ocidental;
2. que as artes e a estética, em particular, como reflexão sobre o ato criador encontrem lugar tão eminente quanto o das ciências das disciplinas tecnológicas;
3. que a prospectiva como reflexão sobre os fins, os valores e o sentido do futuro em vias de nascer, e como tomada de consciência de nossas responsabilidades- temática mais importante do ensino pré-figurativo-, ocupe espaço tão amplo quanto o do passado.

Pois só um conhecimento vivido das culturas não-ocidentais e originárias, isto é, um verdadeiro "diálogo das civilizações e culturas", permite dar resposta às indagações de hoje, em escala planetária, integradora. Permite realizar a grande reviravolta cultural necessária, tornando relativo o que se convencionou chamar ciências e artes, situando as duas áreas no contexto infinitamente mais vasto de uma sabedoria, na qual nossas relações com a natureza não são apenas manipulação ou de conquista, mas de amor e participação: uma abordagem, em que o relacionamento de um com o outro e com a sociedade não é o de um individualismo, mas de comunidade, onde nossas ligações com o futuro não são definidas por uma simples extrapolação do presente e do passado, mas por ruptura, superação e transcendência: a criação de um futuro realmente novo.

O ensino pré-figurativo das artes é parte de um sistema de educação que incita o homem a se comportar perante o mundo, não como diante de um objeto, mas como o artista diante de uma obra a criar.

A prospectiva, finalmente, entendida não no sentido positivista da futurologia, como simples previsão tecnológica dos meios a partir do presente e do passado, mas como reflexão sobre os fins, exame crítico e questionamento dos objetivos e como antecipação, invenção de fins e de novos projetos.

O ensino pré-figurativo, assim como eu o concebo, forçosamente implica na educação permanente do homem moderno, ou seja, a reciclagem constante do corpo docente, reciclagem que se tornou necessária pela aceleração científica, ou seja, o desenvolvimento tão rápido dos conhecimentos e das técnicas, que não é, mais possível bloquear -no começo da vida- a formação dos homens pela escola e o aprendizado, tornando-se indispensáveis reciclagens freqüentes durante todo o período da vida ativa.

A nossa Escola, uma escola de arte, vive nas tensões e controvérsias das idéias, através das quais resplandece a unidade latente de todas as concepções estéticas. A assimilação dessa unidade leva-nos a penetrar na parte mais transcendental da arte: o espírito criador faz crescer as tensões e leva-as a um movimento ininterrupto e a uma ação tremenda. Deixá-las enfraquecer e disfarçá-las em conceitos definitivos e verdades aparentemente absolutas significaria a ruína do espírito criador.

Mas o todo possui conteúdo somente na profundeza e na extensão das experiências desde que eu entendo por experiência tudo, que pode tornar-se presente ao homem.

Nas artes, a própria vida espiritual é o fundamento da experiência. O espírito realiza-se através de sua concretização. E nós compreendemos o conteúdo da mesma, na medida em que vivemos entregues à meditação ou sob o influxo da paixão artística, sendo indiferente que participemos das coisas da arte ou que sintamos sua dolorosa falta. Em ambos os casos, a concentração e a entrega absoluta ao ideal levam à penetração no conteúdo da arte.

O que seria da arte, se a sua beleza não fosse a inquietação fecundada vida espiritual? Se não se sentissem nos estudos, as divergências da interpretação, das teorias e dos princípios estéticos? O que seria da história da arte, se faltasse uma realidade artística verdadeira?

Como seria possível compreender o pensamento dos grandes mestres sem ter passado,de uma ou outra maneira, pela problemática que constitui a vida dos mesmos? Por isso, a seriedade da vida pessoal, o rigor, a auto-disciplina, a intolerância consigo mesmo são as condições de um estudo profundo e eficiente.

Nas artes surgem as experiências através de uma intensa vida interior, através do poder da sensibilidade e da audição no silêncio.

Experiência não "é" simplesmente.É somente na medida em que o nosso espírito for criador que fazemos experiências.

O traço fundamental da experiência artística é a compreensão, a compreensão do todo, da dialética das relações de tudo com tudo. Só se integrando na problemática de nossa existência e vivendo na interdependência das coisas, esplende o espírito criador.

Estudantes: não pensem que assiduidade e aplicação ao estudo, a simples aquisição ou compilação de conhecimentos para o exame, a profissão e a carreira, sejam o suficiente. Sem dúvida, aplicação nos estudos, aplicação absoluta é conditio sine qua non para a vida intelectual. Mas não confundam esta com a pseudo-aplicação e o pseudo-interesse que tanto se observam entre os alunos que freqüentam as escolas de arte. Conjecturas gerais sobre o todo não significam a participação no mesmo.

Viver no desperdício do mais ou menos não é compreensão. Petiscar de tudo, não é largueza de horizontes. O verdadeiro estudo exige a realização clara e concreta das coisas, a concentração numa só coisa dentro da amplidão ilimitada do universal.

Eis o que distingue a nossa escola, uma escola de nível superior, das outras escolas de música: a consciência da imperfeição de tudo e de todos, a consciência do problema que pesa sobre cada um, o problema de escolher livremente sua tarefa, e a recusa de programas de ensino imutáveis.

E natural que a constante preocupação com uma problemática que sempre se renova e, principalmente, que encerra objeto e sujeito, isto é, envolve professor e aluno, artista, obra de arte e consumidor, problemática viva, sem a qual o espírito ,criador desfaleceria, não deixa de dar margem à dúvida.

A realidade da escola é sempre demasiadamente afastada do ideal. Nós, como professores, vocês como alunos, todos falhamos demais. O fato porém, de reconhecer isso, aproximar-nos-á, cada vez mais da verdade. Somente quem não sente suas próprias falhas, quem não sente seus defeitos, seus fracassos, esquiva-se do espírito criador.

Quando, há 50 anos atrás, matriculado nos cursos da Academia Estadual de Música em Berlim, pela primeira vez atravessei o limiar daquele famoso instituto, não deixei de sentir o tremor de profundo respeito pela tradição e pelas coisas da arte. Foi lá que ouvi ensinar os compositores Paul Hindemith e Kurt Thomas, o violoncelista Emanuel Feuermann, o pianista Edwin Fischer, o regente Wilhelm Furtwängler e muitos outros, cujos nomes entraram na história da música.

Muitas veses, com a arrogância da juventude, encontrei em cada um algo para criticar. Com a perspicácia da mocidade, talvez não sempre sem razão. Mas, ao mesmo tempo, fiquei comovido, impressionado e até fascinado com o que os meus mestres tinham a dizer e o que nunca teria compreendido sem os seus ensinamentos. Com gratidão lembro-me dos meus professores, cujos exemplos foram decisivos para a minha carreira. É que também a crítica que rejeita, é fundamento da cultura.

Desejo, que vocês ajam da mesma maneira, que nos critiquem severamente, mas que essa crítica não deixe de ter sua raiz na idéia universitária de uma escola de ensino superior e que ela nasça do espírito criador.

Desejo que vocês façam tudo melhor que nós, e que ao mesmo tempo iniciem, num trabalho incansável, o desenvolvimento consciente de seu poder intelectual.

Não importa, se vocês nos reprovam, a nós que nos esforçamos para preservar a continuidade da tradição. Importa, porém, que encontrem um caminho para penetrar mais a fundo no espírito dessa mesma tradição.

O espírito criador não é um dom da natureza. E um presente que recebem aqueles que a ele se conservam abertos. O trabalho intelectual, a autocrítica, a compreensão de tudo que os homens criam, visam em última análise cultivar em nós uma vida intensa, que nos torna homens livres.

Deve ser a nossa Escola um laboratório, onde se cultiva o diálogo entre professores e alunos, onde se procura penetrar em tudo, elucidar e objetivar tudo que pode ser apreendido. Desejo que a nossa Escola dê a impressão de que toda a vida é uma grande experiência, um material a ser estudado. Assim a nossa Escola torna-se atual, integrada na realidade contemporânea. É verdade que o espírito criador deve ter suas raízes na tradição, nos tempos passados, em mundos estranhos portanto, mas jamais ele deve isolar-se e afastar-se do presente real. Assim ele despertará forças para elucidar o presente e para contribuir resolutamente para a construção do futuro da humanidade.

COMENTÁRIO

O convívio com Koellreutter, seja no âmbito discente ou no pessoal, é sempre uma experiência radical. Questionador contumaz, Koellreutter incita o interlocutor à reflexão crítica. É clássica sua introdução a um curso quando se vê diante de novos alunos: "questionem tudo o que os livros dizem, questionem tudo o que o professor diz e questionem tudo o que vocês pensam. Perguntem sempre PORQUE". Esta proposição, de início tida como uma brincadeira, se torna ao longo de seus cursos uma meta ideológica que, nem sempre, é bem compreendida. Muitos alunos, acostumados à uma atitude passiva diante de um professor, não toleram o esforço necessário para essa nova atitude. Mais que tudo, Koellreutter ensina a pensar.

Como professor, Koellreutter recusa sempre o papel de informador. Prefere o de "animador" mas, quase sempre, atua como "desequilibrador". Quando um professor age como um informador ele espera alunos ouvintes, passivos. Quando, age como "animador" espera alunos pesquisadores, ativos. Mas os poucos que conseguem agir conscientemente como "desequilibradores" esperam alunos corajosos, criativos, capazes de re-equilibrar-se, crescendo como pessoas.

Talvez por isso Koellreutter desperte sentimentos tão polares entre seus alunos: de um lado a rejeição absoluta; do outro a quase devoção.

Como nos diz R.Barthes, em sua Aula, o professor ainda sem experiência ensina exatamente aquilo que sabe. Mais experiente, o professor ousa, desafia, incita,"acaba por ensinar o que ele nãosabe"; os que setornam "mestres" são capazes de ensinar o aluno a "des-aprender", a remover as inumeráveis camadas de verniz que a vida passa sobre os nossos sentidos e emoções, para que a "essência" criativa de cada um possa se manifestar novamente. Barthes conclui sua Aula dizendo que sapientia significa: “nenhum poder, um pouco de saber, o máximo de sabor". Koellreutter pertence última a essa categoria.

O texto que se segue (proferido como aula inaugural) é um exemplo vivo dessas considerações.
Já no título O Espírito criador e o ensino pre-figurativo, Koellreutter traça a linha mestra do texto e mostra sua forma de atuar como pedagogo.

Porque "pre-figurativo"? Trata-se de uma questão crucial no trabalho do mestre. Figurativo é um termo próprio do domínio das artes plásticas e diz respeito a uma forma de "manifestação artística, comum a diferentes épocas, culturas e correntes estéticas, e que se manifesta pela preocupação de representar formas acabadas da natureza" (Aurélio). Numa pintura figurativa, por exemplo, o pintor procura representar algo perceptivamente pré-estabelecido -ele pinta uma montanha, uma casa, uma pessoa, um animal, etc. Por outro lado, numa obra não-figurativa, o pintor sugere, circunscreve, delineia mas não "afirma" formas pré-estabelecidas. Tomando por empréstimo esse sentido, Koellreutter propõe um ensino artístico pré-figurativo, aberto, livre de pré-concepções, onde atue o espírito criador. Como ele nos diz no texto: "o ensino pré-figurativo é um método de delinear aquilo que ainda não existe, mas que há de existir, ou pode existir, ou se receia que exista. Este método de ensino, naturalmente, não rejeita os métodos tradicionais, mas sim os complementa.”

Gostaria de destacar alguns trechos que, a meu ver, traduzem claramente esta proposta:

O alicerce do ensino artístico é o ambiente. Um ambiente que possa acender no aluno a chama da conquista de novos terrenos do saber e de novos valores da conduta humana. O princípio vital desse ambiente, é o espírito criador. O espírito que sempre se renova, que sempre rejuvenesce e nunca se detém.
.A ... eficiência da escola reside na inquietação, que nasce da consciência de não poder fazer o ideal.
Numa escola moderna, as soluções não são mecanicamente fornecidas ao aluno, mas sim resultam de um trabalho comum de todos que dele participam.
A estagnação do movimento, a rotina, a sistematização rígida dos principios, a proclamação do valor absoluto são a morte da escola, O espírito criador que sempre duvida, procura, investiga e pesquisa, e a sua vida.
Todos os esforços... serão vãos, para a real compreensão das coisas da arte,... quando não relacionarmos os nossos conhecimentos como todo,.. Com o todo da arte, com o todo de nossa existência, com o todo do meio-ambiente e com o todo da sociedade em que atuamos.
O ensino pré-figurativo das artes é parte de um sistema de educação queincita homema se comportar perante o mundo, não como diante de um objeto, mas como artista diante de uma obra a criar.
... uma escola de arte vive nas tensões e controvérsias das idéias, através das quais resplandece a unidade latente de todas as concepções estéticas. A assimilação dessa unidade leva-nos a penetrar na parte mais transcendental da arte: o espírito criador faz crescer as tensões e leva-nos a um movimento ininterrupto e a uma ação tremenda. Deixá-las enfraquecer e disfarçá-las em conceitos definitivos e verdades aparentemente absolutas significaria a ruína do espírito criador.

O que seria da arte, se sua beleza não fosse a inquietação fecunda da vida espiritual?
O espírito criador não é um dom da natureza. É um presente que recebem aqueles que a ele se conservam abertos.
Para mim e para tantos outros foi um privilégio usufruir do convívio com o mestre Koellreutter. Em minhas atividades profissionais, seja como musicista seja como médico, Koellreutter foi um marco divisor: antes e depois dele. Espero que a leitura do texto gerador deste comentário, possa proporcionar aos que não tiveram esse privilégio uma oportunidade de refletir e compartilhar da visionária sabedoria do mestre.

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João Gabriel Marques Fonseca, Musicista, Médico e Professor da Faculdade de Medicina e da Escola de Música/UFMG.

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